Publicada em 03/07/2011 pela Folha de S. Paulo.
OLIVER STUENKEL
Para todos os países, manter e fortalecer a competitividade da economia e suas habilidades de inovar é um dos interesses principais para assegurar o crescimento a longo prazo. E isso requer inovação e alta produtividade.
As companhias brasileiras enfrentam escassez de mão de obra qualificada em áreas específicas, o que limita a habilidade para inovar. Fica evidente que o Brasil, que exporta commodities e importa produtos mais complexos, enfrenta o risco de dependência econômica se não consegue produzir produtos de maior valor agregado.
Enquanto grandes companhias como a Vale e a Odebrecht são capazes de lidar com a burocracia necessária para contratar especialistas estrangeiros, companhias pequenas e médias frequentemente não conseguem ter acesso a esses especialistas.
Universidades brasileiras e centros educacionais não são ágeis para prover quantidades suficientes de mão de obra qualificada. Mudanças na política podem levar décadas para surtir efeito no mercado de trabalho.
Aumentar o número de imigrantes altamente qualificados no país não é uma alternativa à reforma educacional, mas isso pode apresentar resultados imediatos. A competição global por talentos tende a aumentar porque a China e a Índia estão procurando se destacar nos setores de valor agregado, mas também enfrentam uma aguda escassez de trabalhadores qualificados.
Além disso, nações industrializadas estão utilizando cada vez mais políticas de atração de imigrantes altamente qualificados. Países ricos irão enfrentar pressão crescente para “importar contribuintes”, medida necessária para arcar com os custos de número crescente de aposentados. Os países da OCDE tornarão cada vez mais fáceis a imigração e o estabelecimento deles.
No Brasil, o número de estrangeiros se mantém relativamente baixo, uma vez que apenas grandes empresas conseguem ter acesso a trabalhadores altamente qualificados de outros países.
O que importa para esses trabalhadores é a atratividade do país -perspectivas de carreira, qualidade de vida e salário. É mais difícil atrair trabalhadores qualificados do que os não qualificados.
OLIVER STUENKEL é professor-adjunto de relações internacionais da FGV.
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