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21/04/2012 – 14h53
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
A Índia é o país mais beneficiado pela preocupação global com a ascensão da China, diz Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da da FGV-SP e autor do blog “Post Western World”.
Além de ser uma reação ao aumento dos gastos militares chineses, o teste do míssil indiano de longo alcance confirma que o país alcançou um status global excepcional, reconhecido como potência atômica apesar de não ser parte do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear).
Stuenkel participou em março do encontro entre acadêmicos dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Nova Déli, antes da cúpula do grupo.
Folha – Que mensagem a Índia mandou à China ao testar o míssil de longo alcance?
Oliver Stuenkel – Há ambiguidade na Índia em relação à China. Uma facção acredita que um conflito é inevitável em longo prazo, já que são dois países em ascensão que disputam a mesma esfera de influência e o acesso a matérias-primas no mundo. Há um conflito de fronteira não resolvido [que provocou uma guerra em 1962]. Os jornais há tempos adotam um tom bélico, que faz o risco de guerra parecer iminente. Outro grupo, menor, acha que a única maneira de a Índia crescer em longo prazo é em cooperação com a China, e defende uma posição mais pragmática. Houve avanços recentes em segurança marítima e comércio.
Qual a importância para a Índia do comércio com a China?
A China é seu primeiro parceiro comercial. Entretanto, a realidade é que o peso militar da China vem aumentando. A Índia teme o “colar de pérolas”, a estratégia chinesa de estabelecer uma rede de bases militares e portos no Índico, por onde passam o petróleo do Oriente Médio e as mercadorias da África. Para a Índia, é uma tentativa de reduzir sua margem de manobra no Índico, ela que considera parte de sua esfera de influência. Um dos portos construídos pelos chineses fica no sul do Paquistão, rival dos indianos. A Índia também sabe que sua capacidade de investimento externo é menor do que a da China. O míssil tem um valor simbólico para mostrar que a Índia tentará limitar essas diferenças crescentes de poder.
Ele também acentua o duplo padrão com que o mundo lida com a questão nuclear, já que a Índia não é parte do TNP (Tratado de Não Proliferação) e foi aceita como potência atômica. Como analisa esse aspecto?
A Índia é o país que mais se beneficia hoje da preocupação com a ascensão da China, que é grande na Europa e nos EUA, mas também no Vietnã e no Japão. Todos veem a Índia como um contrapeso à China na região.
Além disso, há a questão ideológica, já que a Índia é um país democrático e, se for bem sucedida, compete com o modelo autoritário chinês.
Uma das maiores apostas do governo George W. Bush [2001-09] foi buscar a aliança com a Índia, suspendendo as sanções a que o país foi submetido depois dos testes da bomba nos anos 90. Apesar de ter sido reintegrada à comunidade internacional, a Índia não aceitou o TNP.
Muita gente nos EUA achava que, depois do acordo de 2005 [de cooperação nuclear civil entre os dois países], a Índia faria parte do Ocidente. Isso não aconteceu e nem vai acontecer porque a Índia acredita muito no próprio excepcionalismo. Não se integrará a um bloco, não perderá a autonomia.
É um contraste com o caso do Irã, não? Isso enfraquece o regime global de não proliferação?
De certa maneira sim. Há questões políticas e estratégicas que influenciam o regime. E, acima de tudo, a Índia continua indiretamente apoiando o Irã, não aderindo ao embargo ao petróleo iraniano. Prevalece o interesse nacional indiano, não a pressão internacional.
Um fato como esse tira a credibilidade do fórum Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)?
A rivalidade estratégica entre Índia e China é um problema para os Brics. Mas o fórum existe justamente para aumentar o diálogo entre os governos. Na pré-cúpula [dos Brics em Nova Déli, em março], as duas delegações mais integradas eram a indiana e a chinesa.
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