Por décadas, ir para o exterior era visto como o maior sonho possível para muitos jovens brasileiros. “Lá fora” seria o melhor lugar para viver. Por isso, pode ser desconcertante ver um número crescente de jovens estrangeiros altamente qualificados, e que poderiam encontrar emprego em qualquer canto do mundo, chegarem e se instalarem no Brasil. Mas o número de estrangeiros – qualificados e não-qualificados – vindo ao Brasil está aumentando, atraídos pelo crescimento econômico inédito, os salários competitivos e uma sociedade mais ocidentalizada do que qualquer outra entre os países dos BRICS.
Do ponto de vista histórico, e de modo semelhante ao caso dos Estados Unidos, o Brasil é um país construído através do trabalho árduo de imigrantes europeus e escravos africanos. O Brasil é, portanto, uma verdadeira nação imigrante, e sua história rica em ondas recorrentes de imigração, vindas de lugares tão diversos como Portugal, África, Itália, Alemanha, Polônia e Japão, tornaram o país um caldeirão étnica e culturalmente diversificado, que moldou sua identidade nacional. Nos cursos que leciono atualmente, os nomes de meus alunos indicam ancestrais japoneses, húngaros, portugueses, italianos, alemães, chineses, libaneses e espanhóis, o que confere um grau de diversidade comparável com o de qualquer grande universidade europeia ou norteamericana.
Mas, apesar do papel importante que a imigração desempenhou ao longo da história do Brasil, o país já não recebe estrangeiros com a mesma facilidade com que fazem outros países. Poucos imigrantes chegaram ao Brasil depois de 1990. Aos olhos de visitantes, o país parece, hoje, relativamente isolado do resto do mundo. Enquanto os Estados Unidos foram como um imã para imigrantes ao longo da segunda metade do século 20, com sua economia dinâmica e sua sociedade liberal, propícia à mobilidade, a economia do Brasil entrou em estagnação, e seu governo o afundou no isolamento com seu modelo de substituição de importações durante a Guerra Fria. A política de imigração do Brasil dificulta o trabalho de estrangeiros no país. Enquanto os imigrantes nos Estados Unidos podem eventualmente se tornar cidadãos americanos, a obtenção da cidadania brasileira é difícil. Isto é ainda mais paradoxal quando se considera que a falta de trabalhadores qualificados é um dos maiores obstáculos a impedir o Brasil de sustentar seu crescimento ao longo prazo.
Contudo, nem mesmo regras complicadas de imigração podem desfazer o fato de que o recente milagre econômico do Brasil atrai um número crescente de imigrantes qualificados de todas as partes do globo. O idioma representa uma barreira significativa, já que a fluência em português é absolutamente necessária para encontrar trabalho no Brasil. Mas também oferece uma oportunidade única para os estrangeiros dispostos a aprenderem a língua, já que empresas brasileiras buscam desesperadamente engenheiros, especialistas em tecnologia da informação e profissionais da área de finanças que falem tanto português quanto inglês. Como apareceu recentemente na The Economist, o Brasil é um dos únicos países com um déficit de doutorados. A cultura é, também, importante. Um engenheiro europeu ou americano com ofertas de emprego de empresas em São Paulo, Dubai, Déli ou Pequim, como perspectivas financeiras e de carreiras semelhantes, pode optar pelo Brasil por ser o país de maior facilidade de integração. O número de estrangeiros em busca de emprego no Brasil está crescendo, e deve aumentar ainda mais. Não se passa sequer uma semana sem que amigos ou amigos de amigos da Itália, de Portugal, da Grécia ou dos Estados Unidos perguntem sobre oportunidades de emprego no Brasil.
O número crescente de pessoas do exterior em busca de emprego mudará a forma como o Brasil se relaciona com estrangeiros. Visitantes do exterior são bem quistos no Brasil, pois são poucos, ricos e não costumam ficar por muito tempo. No futuro, os imigrantes virão em maiores números, serão relativamente pobres, e terão a intenção de se instalar no Brasil. Tanto trabalhadores qualificados quanto não qualificados procurarão se beneficiar da ascensão do Brasil. Empregadas domésticas nas grandes cidades do Brasil já não virão mais das áreas rurais pobres do país, e sim da Argentina, do Paraguai e possivelmente de Portugal e da Espanha. Embora possa levar décadas para que imigração ao Brasil chegue às proporções conhecidas na Europa, resta a ver quão bem o Brasil lidaria com uma nova onda de imigração, e os desafios que a acompanham. Por exemplo, as escolas públicas brasileiras oferecem poucas aulas adicionais para ajudar estudantes que não têm fluência em português a alcançarem o nível do resto da turma. A imigração ilegal já é um problema em São Paulo, mas ainda não faz parte do debate público. Mas apesar de todas as dificuldades, o passado do Brasil deve ajudá-lo a enfrentar os desafios inerentes à imigração, e a valorizar o seu novo papel como uma terra de oportunidades e a destinação de imigrantes de todas as partes do mundo.
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Photo Credit: Die Maus/Gesellschaft fur Familienforschung