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10 previsões para a Política Internacional em 2014

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10. O Sul Global vai às urnas

Em 2014, as quatro maiores democracias do Sul Global terão eleições gerais: Brasil, Índia, Indonésia e África do Sul. Durante este ano eleitoral, os governantes tenderão a focar mais em desafios domésticos do que propriamente em política externa. Nem os líderes atuais, nem aqueles que os substituirão estão interessados em propor iniciativas internacionais de relevância.

Meu palpite: A Indonésia e a Índia passarão por transições de liderança. O Brasil e a África do Sul irão reeleger Dilma Rousseff e Jacob Zuma, respectivamente.

9. O futuro da governança da internet

Após as revelações de espionagem que dominaram o debate global durante o segundo semestre de 2013, o futuro da governança da internet será discutido em diversos fóruns internacionais, incluindo a ONU, durante este ano. O Brasil e a Alemanha tomaram a dianteira ao propor uma resolução que garanta o direito à privacidade na internet, sendo o governo brasileiro o organizador de uma conferência sobre o tema em abril, na cidade de São Paulo. As leis que visam manter os dados no próprio país poderiam ameaçar o sistema de computação em nuvem (cloud computing) – no qual os dados armazenados pelas empresas americanas de internet podem ser acessados de qualquer parte do mundo.

Meu palpite: China e Rússia irão propor regras para aumentar o controle governamental sobre a internet, uma mudança que não encontrará amplo apoio no resto do mundo.

8. Onde estão os BRICS?

Em 2014, os Estados Unidos contribuirão mais com o crescimento econômico global do que a China (a taxas de câmbio de mercado) e o Japão contribuirá mais do que a Índia. O crescimento no Brasil e na África do Sul está fadado a permanecer baixo. Mesmo com este clima melancólico, o grupo BRICS realizará sua 6ª Cúpula no Brasil, ocasião em que será lançado o Banco de Desenvolvimento dos BRICS, considerado o passo mais importante da história do grupo rumo à sua institucionalização. Ainda assim, críticos permanecem céticos com relação ao futuro dos BRICS, especialmente no contexto atual em que as taxas de crescimento mostram-se inexpressivas.

Meu palpite: A cooperação entre os BRICS continuará, mesmo que com cautela, englobando desde questões relacionadas à agricultura, educação e saúde pública até o seu comportamento eleitoral nas instituições internacionais.

7. O Irã se integrará na comunidade internacional?

O histórico acordo provisório firmado em novembro do ano passado entre seis potências globais e o Irã é um passo importante na direção correta. O Ocidente aliviará de forma “limitada, temporária e reversível” algumas sanções econômicas, o que fará com que o Irã não apenas interrompa a produção de armas nucleares, mas também reverta algumas de suas etapas. A atual liderança política em Teerã aceita um regime de inspeção mais intrusivo, o que torna o acordo bem diferente daquele estabelecido com a Coreia do Norte em 2005, rompido pelos próprios coreanos. A reintegraçãodo Irã na comunidade internacional transformaria o contexto político no Oriente Médio, tornando improvável o apoio americano para um ataque israelense contra o Irã. Um acordo possivelmente ajudaria a obter apoio iraniano para mediar um acordo de paz na Síria.

Meu palpite: Podemos estar otimistas de que o penoso isolamento do Irã perante a comunidade internacional será reduzido.

6. O que o futuro reserva para a Síria?

Dada a continuidade da guerra civil na Síria, os Estados Unidos e a Europa têm três prioridades: a negociação de um acordo de paz para acabar com a violência, reduzira influência do Irã na região e a deposição de Bashar Assad.

Meu palpite: Alcançar os três objetivos será impossível e acabar com a violência deve ser o objetivo mais importante. Tendo isso em vista, um acordo de paz provavelmente envolverá, se realmente efetivado, tanto o presidente da Síria quanto do Irã.

5. Os protestos globais

Em 2013, protestos em massa balançaram o Brasil e a Turquia. O que esperar para 2014? Correm risco, em particular, os países com uma classe média em ascensão e sem investimento suficiente em educação e infraestrutura. Os protestos contra as medidas de austeridade (como na Espanha), corrupção (como na Índia e na China), violência policial (a exemplo do Reino Unido) e opressão (Egito e Rússia, dentre outros) vão se tornar cada vez mais frequentes, uma vez que a tecnologia permite que os manifestantes organizem-se rapidamente, deixando os governantes com pouco tempo para se prepararem. Os países-sede de grandes cúpulas políticas e eventos esportivos enfrentam riscos adicionais de protestos generalizados.

Meu palpite: Preparem-se para protestos em todo o mundo, incluindo o Brasil (mesmo que não tão grandes como em 2013, uma vez que o triunfo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo pode limitar a indignação pública).

4. A ascensão da África

A África é a última fronteira econômica da economia global. Possui 40% das matérias-primas do mundo e 60% de suas áreas aráveis não cultivadas. Nenhum outro continente se desenvolveu tão rapidamente na última década como a África, onde o crescimento econômico real se deu entre 5% e 10% ao ano. No fim da Guerra Fria, apenas três das 53 nações africanas tinham democracias funcionais. Hoje, 25 dos 54 países vivem em sistemas democráticos. Mais de 300 milhões de africanos integraram a classe média, número este que se assemelha à população dos Estados Unidos. Nenhum ator global importante pode optar por não fortalecer sua presença no continente africano.

Meu palpite: Como o crescimento na África do Sul esmorece, economias em rápido crescimento como Angola, Nigéria e Etiópia começarão a desempenhar um papel mais ativo em questões internacionais. O papel da África no cenário internacional aumentará ainda mais.

3. Merkel conseguirá consertar a Europa?

Uma vez que a crise econômica persiste na Europa, todos os olhos estão focados na Alemanha. Devido às medidas de austeridade empreendidas, Ângela Merkel é constantemente demonizada no velho continente. Os críticos dizem que a Alemanha é excessivamente austera, muito insistente em sua consolidação fiscal mesmo em recessão, estando propensa a colocar o ônus do ajuste em países deficitários. Em resposta, ela aponta que a Europa tem 7% da população mundial, 25% do PIB global e 50% dos gastos sociais no mundo. Por isso, não há espaço para generosidade.

Meu palpite: A chanceler alemã tenderá a permanecer com sua popularidade em alta neste ano, mesmo que tudo indique que ela não mudará sua estratégia com relação à Europa.

2. A China vai liberalizar sua economia?

Após um começo promissor, o mundo esperará que Xi Jinping implemente as reformas anunciadas em 2013 e que a batalha contra a corrupção e por melhores serviços públicos se perpetue. Além disso, a futura maior economia do mundo tem que se libertar do “modelo de Deng Xiaoping” de capital e mão-de-obra barata, com o foco no mercado exportador. Os salários estão aumentando, o capital se torna cada vez mais caro e a demanda doméstica tem que se desenvolver a fim de manter o crescimento econômico tão alto como costumava ser nas últimas décadas. Pela primeira vez desde os anos 70, muitos argumentam que agir com segurança requer realizar algumas reformas econômicas mais substanciais. Em 2014, O Banco Central espera lançar formalmente algumas liberalizações financeiras na nova zona de livre comércio de Shangai, com a esperança de em breve estender as reformas para outras partes do país se o período de experiência obtiver êxito.

Meu palpite: Mesmo com os diversos protestos em muitas partes do país (contra corrupção, poluição e censura), as reformas terão sucesso e a China voltará a crescer 7%.

1. Os EUA recuperam o fôlego

Enquanto previsões de longo prazo sobre a ascensão da China permanecem válidas, a recuperação da economia americana (parcialmente impulsionada pelo gás de xisto) dará aos governantes em Washington uma assertividade adicional em questões internacionais.

Meu palpite: Se a história serve como guia, Obama irá focar mais em questões internacionais em seu segundo mandato, procurando deixar um legado para o mundo. Isso pode incluir a tentativa de acompanhar a questão iraniana, adotar uma política mais razoável com Cuba, bem como aumentar a presença americana ao redor da China. Além disso, os Estados Unidos podem tomar direcionamentos importantes promovendo o livre comércio entre o Atlântico e o Pacífico, mediando tensões entre China e Japão, findando a guerra na Síria e promovendo o diálogo entre Israel e Palestina.
 

SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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