Luiz Alberto Figueiredo enfrenta a tarefa mais desafiadora desde que assumiu o Ministério das Relações Exteriores do Brasil no ano passado. Depois de ser muito criticado por sua reação inicialmente tímida à crescente violência na Venezuela no início de fevereiro, Figueiredo se transformou em um ator-chave na tentativa da Unasul de reiniciar um diálogo construtivo entre o Presidente Maduro e a oposição. Além do chanceler, a Ministra das Relações Exteriores da Colômbia, María Ángela Holguín, e o Ministro das Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, tentam assegurar um resultado positivo nas negociações.
Em meados de abril, após a primeira reunião entre o governo e a oposição em Caracas, Figueiredo expressou otimismo, argumentando que ambos os lados pareciam dispostos a falar uns com os outros. No início de maio, ele atribuiu níveis mais baixos de violência na Venezuela aos esforços da Unasul.
No entanto, não está claro até que ponto a situação melhorou. Como publicado na The Economist, a situação deteriorou-se desde o início das negociações em 10 de abril:
O espaço para os líderes da oposição moderada está diminuindo. As negociações não conseguiram alcançar a libertação de um único prisioneiro político e mais são presos quase que diariamente. Movimentos para nomear figuras não partidárias para o Supremo Tribunal, a autoridade eleitoral e outras instituições ainda não foram frutíferos. Gangues armadas pró-governo continuam a assediar os manifestantes, assim como as forças de segurança. O ato de protestar foi declarado em uma ofensa criminal. A ameaça de prisão como golpistas paira sobre cada líder da oposição.
A sociedade venezuelana está profundamente polarizada há anos, e o Brasil tem frequentemente tentado evitar crises políticas lá, com um variável sucesso. Depois de um fracassado golpe de Estado em abril de 2002 contra o presidente Chávez, o Brasil continuamente procurou estabelecer um diálogo entre o governo e a oposição. Artigos de jornais da época são similares aos publicados nos dias de hoje. Uma diferença interessante entre 2002 e 2014 é que a Unasul substituiu a OEA como o quadro institucional das negociações. Ainda deve ser observado como essa nova dinâmica regional – ou seja, a ausência dos Estados Unidos nas negociações – afeta a situação.
Seria injusto culpar somente Figueiredo se as negociações não conseguirem restaurar a estabilidade política. A Venezuela vai levar anos, se não décadas, para superar as divisões que se desenvolveu ao longo dos últimos anos. Isso não muda o fato de que a crise política na Venezuela é um teste decisivo da capacidade do Brasil em defender os direitos humanos, a democracia e a estabilidade política na América do Sul. O Brasil, junto com a Colômbia e o Equador, deve convencer os dois lados a estabelecer um diálogo real e envolver compromissos sérios e mensuráveis, além de ajudar a articular uma forma mais imediata de sair da crise.
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