https://piaui.folha.uol.com.br/aposta-de-alto-risco/
Bolsonaro deposita todas as fichas em “relação monogâmica” com Trump, com implicações para a autonomia do Brasil; cabe às alas mais moderadas do governo tentar reduzir danos dessa decisão
OLIVER STUENKEL
21mar2019_12h23
Depois do retumbante fracasso de sua estreia em palco internacional na viagem a Davos, para participar do Fórum Econômico Mundial, onde investidores internacionais ficaram perplexos com seu discurso raso e o consideraram um desastre, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu se sair melhor em Washington.
O resultado não é trivial, pois a viagem tinha tudo para dar errado. Em primeiro lugar, o timing não era o melhor. Inicialmente, o governo dos Estados Unidos preferia organizar a reunião em uma data posterior para ter mais tempo de negociar acordos, mas a equipe de Bolsonaro insistiu em realizar logo a visita. Afinal de contas, o significado do encontro com Trump sempre teve mais a ver com simbolismo do que com substância.
Em segundo lugar, a inexperiente trinca diplomática de Bolsonaro – seu filho Eduardo, o chanceler Ernesto Araújo e o assessor Filipe Martins – cometeu uma sequência de trapalhadas já na preparação da visita. Diplomatas americanos, a portas fechadas, reviraram os olhos diante do amadorismo da equipe brasileira. Mesmo aqueles em Washington simpáticos a laços mais estreitos com o Brasil tinham dúvidas sobre a real capacidade de entrega do governo Bolsonaro. A insistência da delegação brasileira em conversar com Steve Bannon, ex-assessor de Trump, hoje persona non grata na Casa Branca, por exemplo, deixou boquiabertos asseclas do presidente americano.
Um terceiro ponto, porém não menos relevante: as diferentes facções da gestão Bolsonaro, sempre às turras, converteram a política externa brasileira em uma caixinha de surpresas que têm deixado diplomatas mais experientes de cabelo em pé.
Formou-se no governo um verdadeiro triângulo belicoso. A facção antiglobalista e pró-Trump, que inclui o chanceler Araújo e tem à frente o deputado Eduardo Bolsonaro, vive em conflito com a fileira dos generais, liderada pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Cada uma delas também disputa espaço com um terceiro grupo, o dos tecnocratas, liderado pelo ministro da Economia Paulo Guedes e pelo ocupante da pasta da Justiça Sérgio Moro. Diplomatas norte-americanos, encantados com as juras de amor de representantes do primeiro grupo, caíram das nuvens quando viram escorrer pelo ralo projetos ousados, como a…
Ler matéria completa aqui.