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Entrevista: ‘Confronto que Bolsonaro promove pode impactar influência brasileira na Argentina’

https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,confronto-que-bolsonaro-promove-pode-impactar-influencia-brasileira-na-argentina-diz-analista,70002966559

Para Oliver Stuenkel, da FGV, imagem de Macri na Argentina é prejudicada por apoio de Bolsonaro, enquanto críticas a Fernández comprometem alianças com país vizinho

A troca de farpas entre o presidente Jair Bolsonaro e o kirchnerista Alberto Fernández representa o risco de uma relação bilateral ruim entre Brasil e Argentina e uma diminuição da relevância econômica brasileira no país vizinho. A opinião é do professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Oliver Stuenkel.

Qual avaliação podemos fazer dessa rusga entre o presidente Bolsonaro e Fernández?

Primeiro é preciso dizer que o resultado na Argentina tem um impacto importante sobre a dinâmica regional. Dentro desse novo contexto, de uma vitória do Fernández, a janela que a gente tinha para um alinhamento em temas grandes na região vai fechar. Por parte do presidente, ele sabe que vai ser (mais) difícil cooperar com o governo Fernández que o atual. Mas o que acontece agora tem um fundo eleitoral. Fernández está em campanha e para ele é bom ser mencionado pelo Bolsonaro. Ele tem usado isso e sabe que pessoas moderadas, divididas entre ele e o Macri, ficam horrorizadas pelo que o Bolsonaro diz.

Mas o que muda em termos práticos caso ele seja eleito?

Não é inteligente atacar o candidato que provavelmente vai ganhar. Na diplomacia a gente precisa se adequar à política interna de outros países e trabalhar com quem ganha a eleição. Isso vai sobrar, como sempre, para o (vice-presidente Hamilton) Mourão, que já tem dito que haverá uma boa relação. Mas obviamente é um gostinho daquilo que pode haver no futuro: o risco real de uma relação bilateral péssima.

O que seria mais afetado?

A primeira área em risco é o acordo de livre comércio com a UE. O pessoal do Fernández defende uma revisão, mas acham complicado porque haverá pressão dos kirchneristas mais radicais. Acho que isso aumenta o risco de não ratificação. Em segundo, tem a crise na Venezuela. A Argentina do Fernández não vai se alinhar à Venezuela, mas adotará uma posição mais cautelosa.

Seria uma posição mais próxima à da UE e do Uruguai?

Sim. Basicamente a posição uruguaia. E a terceira a relação bilateral em si. Que melhorou nos últimos meses, principalmente no combate ao crime organizado. Mas uma cooperação mais ágil e moderna deve acabar. A China, aos poucos, está superando a presença econômica brasileira na Argentina. Claramente há um risco. O confronto que Bolsonaro promove pode ter impacto na influência brasileira na Argentina.

Ler entrevista completa aqui.

SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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