estadao Featured Portuguese

Cresce admiração pelo ditador de El Salvador na América Latina (Estadão)

Estratégia “mano dura” do presidente salvadorenho é incompatível com o Estado de Direito

https://www.estadao.com.br/internacional/oliver-stuenkel/cresce-admiracao-pelo-ditador-de-el-salvador-na-america-latina-leia-coluna-de-oliver-stuenkel/

Há um ano, Nayib Bukele, presidente de El Salvador, deu início a uma estratégia de terra arrasada contra o crime organizado: anunciou o estado de exceção e suspendeu em seguida uma série de direitos básicos. Isso permitiu que a polícia detivesse dezenas de milhares de pessoas, muitas vezes sem apresentar evidências. Hoje, aproximadamente 2% da população adulta está na prisão, transformando El Salvador no país que mais prende no mundo. Seria como se a população carcerária brasileira – de menos de 1 milhão – aumentasse para mais de 3 milhões, muitas vezes sem o direito de ter um advogado ou se comunicar com familiares. O governo Bukele acaba de inaugurar o que pode vir a ser a maior prisão do mundo para mais de 40 mil presos – chamada, para efeito midiático, de “Centro de Confinamento do Terrorismo”.

A taxa de homicídios de El Salvador, até recentemente uma das mais altas do mundo, caiu vertiginosamente e hoje está entre as mais baixas da América Latina. As principais gangues, como os notórios Mara Salvatrucha e Barrio-18, que atormentaram a população por anos, parecem recuar. El Salvador recebeu mais de 2.5 milhões de turistas no ano passado. A taxa de aprovação de Bukele subiu para 90% – a mais alta na América Latina. Não surpreende que outros líderes e candidatos da região estejam começando a se inspirar no presidente que, com 41 anos, é um dos mais jovens do mundo. O governo esquerdista de Honduras sinalizou que se inspira em Bukele e anunciou recentemente o estado de exceção em várias províncias – reflexo do chamado “Efeito Bukele“. A admiração inicialmente limitava-se à América Central, mas agora um número cada vez mais elevado de políticos elogiam Bukele e tentam copiar sua abordagem em países como Argentina, Peru e Chile. É questão de tempo até que presidenciáveis prometam seguir os passos do governo de El Salvador: de acordo com recente pesquisa de opinião realizada no Equador, país que vive uma escalada de violência, Bukele é mais popular que qualquer político equatoriano. 

A fama repentina de Bukele na América Latina se explica pelos graves problemas de segurança pública que os governos na região enfrentam. No entanto, nem a população salvadorenha nem o crescente número de admiradores de Bukele no exterior parecem ter consciência do altíssimo custo de suas políticas, que demandam violação permanente de direitos básicos de milhares de cidadãos. O próprio Bukele, ciente de que os efeitos positivos de suas medidas dificilmente serão…

Ler matéria na íntegra

SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

LIVRO: O MUNDO PÓS-OCIDENTAL

O Mundo Pós-Ocidental
Agora disponível na Amazon e na Zahar.

COLUNAS