Visita traz vantagens para Moscou ao mostrar que não está isolada, enquanto Brasil é visto cada vez mais como aliado da Rússia
A visita do chanceler russo Sergei Lavrov a Brasília ocorre em um momento sensível para a diplomacia brasileira: depois do crescente isolamento do Brasil durante o governo Bolsonaro, a volta de Lula foi recebida com alívio em capitais ao redor do mundo, uma rara convergência em um cenário cada vez mais marcado por tensões entre os principais blocos. Sob Lula, espera-se um Brasil mais atuante em temas que vão desde o fortalecimento do multilateralismo até o combate às mudanças climáticas. Porém, os comentários controversos do presidente brasileiro sobre a guerra na Ucrânia – por exemplo: o conflito resulta da “decisão dos dois países”, os EUA estariam incentivando a continuação da guerra, a Europa não teria interesse em negociar um acordo de paz – ameaçam torpedear a volta brasileira aos palcos internacionais.
Um conjunto de gestos diplomáticos – a visita de Celso Amorim a Moscou para se reunir com Putin sem também ter se encontrado com o governo ucraniano; a vinda de Lavrov a Brasília sem ter sido anunciada uma visita do chanceler ucraniano Kuleba; a sugestão de Lula à Ucrânia para que abra mão da Crimeia a fim de negociar uma paz com a Rússia – consolida a percepção de que o Brasil não está imparcial, mas alinhado a Moscou. Ao não ser que o governo brasileiro aproveite a visita de Lavrov para criticar, explicitamente, a violação russa do direito internacional ao invadir a Ucrânia, essa percepção se consolidará ainda mais. O cenário demonstra o risco das tentativas de Lula de se tornar um interlocutor-chave na guerra russo-ucraniana, o tema geopolítico…