Falas improvisadas do presidente têm causado desgastes desnecessários no âmbito externo
Ao longo dos primeiros cinco meses de governo, o presidente brasileiro obteve uma série de êxitos notáveis na política externa. Em meio a um alívio generalizado com a saída de Jair Bolsonaro em capitais mundo afora, a mensagem de Lula de que o Brasil “está de volta”, articulada durante a COP-27 no Egito em novembro do ano passado, surtiu efeito: o governo brasileiro conseguiu normalizar suas relações com seus os principais parceiros e ainda obteve promessas de importantes aportes financeiros para apoiar o país no combate ao desmatamento da Amazônia. Mesmo sendo conquistas relativamente fáceis – conhecidas no jargão diplomático como “low-hanging fruit” (algo de fácil alcance), é inegável que Lula, uma das lideranças políticas mais conhecidas do mundo, teve papel importante no processo de consolidar a narrativa da normalização para o público global.
Ao longo do mês passado, porém, o presidente gerou vários desgastes desnecessários que apontam os riscos da diplomacia presidencial. Afinal, com apenas uma frase, um chefe de Estado pode desfazer o trabalho de meses de sua equipe diplomática. O caso da Ucrânia é emblemático. A ideia de Lula de que o Brasil poderia participar de uma possível mediação no conflito em decorrência da invasão russa não é problemática em si. Porém, vem causando fricção a forma errática como o presidente brasileiro tem conduzido a política externa em relação ao conflito. Em vez de promover o diálogo a portas fechadas e testar diferentes ideias nos bastidores, Lula fez inúmeras declarações públicas que causaram consternação no Ocidente – e particularmente em Kiev. Por exemplo: ao sugerir publicamente que a Ucrânia ceda a Crimeia aos russos para negociar a paz – sem averiguar primeiro, a portas fechadas, como a proposta seria recebida –, prejudicou…