Graves tensões entre China e Índia, as duas nações mais populosas da Terra, merecem mais atenção
A invasão russa à Ucrânia e a deterioração das relações entre o Ocidente e a China nos levam frequentemente a enxergar o mundo dividido em três partes: o bloco ocidental, o bloco sino-russo e o Sul Global, que busca preservar suas relações com os outros dois. Nesse contexto, o principal risco geopolítico hoje seria uma conflagração militar entre o bloco ocidental e o sino-russo, como uma reação a um ataque de Pequim contra a ilha de Taiwan, por exemplo. Embora o perigo de uma guerra entre os dois blocos seja real, essa visão um tanto simplista pode nos levar a negligenciar uma série de outras ameaças altamente relevantes.
A mais importante delas hoje é a grave deterioração das relações entre a China e a Índia, as duas nações mais populosas da Terra. São ambas detentoras da bomba atômica e potências emergentes com grandes ambições geopolíticas e um conflito de fronteiras não resolvido desde 1962, quando a China invadiu e derrotou a Índia militarmente. As duas encontram-se hoje em rota de colisão. Em 2020, pelo menos 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em confrontos na fronteira na região do Himalaia. Em dezembro do ano passado, houve novas conflagrações, dessa vez sem mortos. É uma questão de tempo até que ocorram novos confrontos mais sangrentos, sem que haja um mecanismo claro para gerenciar as crises recorrentes. Em uma provocação, o governo chinês mudou unilateralmente, em abril, os nomes de onze localidades no estado indiano de Arunachal Pradesh, região que Pequim reivindica para si e descreve como parte do “Tibete do Sul”.
Na semana passada, a China decidiu expulsar o último jornalista indiano no país, enquanto o número de correspondentes chineses na Índia se reduziu de quatorze para apenas um. Isso pode parecer um mero detalhe à primeira vista, mas reflete um cenário mais preocupante: em um ambiente dominado por discursos cada vez mais nacionalistas, os dois governos permitiram que a situação degringolasse ao ponto…
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