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Crise no Sahel representa ameaça global (Estadão)

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Golpe militar no Níger é reflexo da impotência de governos frente a grupos terroristas na região

O golpe militar no Níger no fim de julho encerrou um dos poucos capítulos esperançosos no Sahel, a vasta faixa árida ao sul do deserto do Saara que vai desde o Oceano Atlântico a oeste até o Mar Vermelho a leste. A região inclui dez nações, várias das quais figuram entre as mais pobres do mundo, que sofrem com disputas por pastos, acirradas pelas mudanças climáticas. O presidente nigerino, Mohamed Bazoum, mantido em cativeiro pelos golpistas, havia tomado posse em 2021, no que foi a primeira transição democrática do Níger.

No ano passado, militares assumiram o poder em circunstâncias semelhantes em Burkina Faso, que faz fronteira com o Níger. Outro golpe ocorreu em Mali, também vizinho, bem como no Chade e na Guiné. A instabilidade política é reflexo das dificuldades dos governos do Sahel em conter o avanço da violência jihadista, que matou mais de 20.000 africanos na região ao longo dos últimos 12 meses. Se o governo golpista nigerino se mantiver no poder, tudo indica que a situação de segurança vai piorar: tanto em Burkina Faso quanto em Mali, o golpe enfraqueceu o combate contra o terrorismo, e milhares de malineses fugiram para Níger por causa da violência dos extremistas. Além disso, a permanência da junta militar na capital nigerina provavelmente levaria o país a perder acesso à ajuda econômica ocidental, e outros países que fazem parte da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) já anunciaram sanções contra o Níger, o sexto maior produtor de urânio do mundo. Em resposta ao golpe, a Nigéria, que também faz fronteira com o Níger, decidiu cortar o fornecimento de energia ao país vizinho.

O Protocolo de Democracia e Boa Governança do Cedeao prevê uma suspensão automática de membros em casos de ruptura constitucional, e o Níger é o quarto integrante do bloco a sofrer a suspensão ao longo dos últimos anos. Vários países do Cedeao chegaram a sinalizar que estão dispostos a participar de uma intervenção militar para reconduzir o presidente nigerino deposto. Afinal, há dois temores tanto na Nigéria quanto em outros países-membros O primeiro é que os golpes militares recentes possam…

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SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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