Para Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais na FGV, é difícil imaginar uma situação que tivesse uma capacidade tão grande para ampliar a polarização no mundo. Essa é uma das consequências do conflito entre Israel e o Hamas. E o fenômeno das redes sociais completa um quadro preocupante, ao estimular discursos simplistas e ameaçar na prática as democracias. Stuenkel é atualmente um dos mais importantes analistas do cenário mundial no País, com estudos aprofundados do papel da diplomacia brasileira no panorama internacional. Ele elogia o papel do Itamaraty e do presidente Lula na atual crise, com um eficiente trabalho de repatriação dos brasileiros e um protagonismo equilibrado no Conselho de Segurança da ONU, beneficiado pelos laços históricos do País com a comunidade árabe e judaica. Acha que a maior contribuição pode ser no sentido de diminuir os efeitos nocivos da guerra e debater um possível cessar-fogo. Mas considera que uma solução é difícil no colegiado da ONU, travado pela disputa entre as grandes potências. Na opinião do especialista, Israel corre o risco de repetir o erro dos EUA após o 11 de Setembro e se isolar internacionalmente.
O trabalho brasileiro de repatriação foi exemplar. Como o sr. vê esse esforço do governo e como ele se compara ao de outros países?
O Brasil tem a maior rede diplomática da América do Sul e uma das maiores do mundo, com uma vasta experiência não apenas geopolítica, mas também sobre como proceder em casos que requerem uma estrutura logística. Há um consenso de que o Itamaraty faz um excelente trabalho. E se o Brasil puder ajudar cidadãos de outros países latino-americanos, isso inclusive pode melhorar a relação com essas outras nações.
O presidente Lula vai aumentar seu protagonismo internacional com esse conflito, inclusive à frente do Conselho de Segurança?
Há dois pontos. O primeiro é que, como o confronto entre Israel e o Hamas agora ocupa boa parte do noticiário internacional, controvérsias do passado – em relação à Ucrânia, por exemplo – por enquanto são esquecidas. A retórica do presidente em relação à Ucrânia causou bastante fricção, sobretudo com países ocidentais, e de forma desnecessária, porque o Brasil ganhou muito pouco com o episódio. No caso do atual…