Referendo venezuelano sobre Essequibo é velha tática de desviar atenção pública da crise econômica e fomentar um nacionalismo tóxico
À primeira vista, o referendo venezuelano no dia 3 de dezembro sobre a reivindicação de Essequibo terá poucas consequências reais. A região de 160.000 quilômetros quadrados, que a Venezuela reivindica há mais de 200 anos, pertence à Guiana, e a campanha de Maduro para ressuscitar a questão é vista pela comunidade internacional como ato de desespero para desviar a atenção pública da crise econômica e fomentar o nacionalismo. As cinco perguntas do referendo são formuladas, de forma caricata, para induzir os eleitores a apoiarem a reivindicação de Maduro e assim produzir uma “vitória” ao governo. Trata-se, portanto, de uma votação meramente simbólica.
Apesar da retórica cada vez mais agressiva – no mês passado, o Ministro da Defesa da Venezuela, general Vladimir Padrino López, fez um apelo para “ir ao combate” com referência a Essequibo –, o risco de um conflito armado é remoto, e não parece haver intenção real por parte do presidente da Venezuela de invadir a Guiana, ex-colônia britânica que se tornou independente em 1966. Para o regime venezuelano, o custo diplomático e econômico de uma guerra iniciada por Maduro seriam imensos, desde a reimposição de sanções amplas por parte de Washington até a condenação diplomática quase universal – inclusive na América Latina. No caso pouco provável de um ataque militar por parte da Venezuela, a Guiana contaria com apoio de seus aliados, como os Estados Unidos, para preservar sua integridade territorial.
De fato, o referendo é uma manobra clássica para inflamar o nacionalismo antes das eleições em 2024. Cientes do risco de serem rotulados de traidores da pátria se criticassem a estratégia esdrúxula de Maduro de priorizar a retomada de Essequibo, numerosos oposicionistas não viram outra opção a não ser apoiar o autocrata venezuelano nesse quesito específico. Não houve, portanto, nenhuma campanha contra a posição governamental. Há vinte anos, o ex-presidente Hugo Chávez, em busca de apoio pela sua ‘Revolução Bolivariana’, já havia arquivado a reivindicação territorial. As recentes descobertas de petróleo em Essequibo, porém, levaram Maduro a tentar resgatar..