Se, nos idos de 1964, os Estados Unidos apoiaram o golpe militar no Brasil; em 2022, Washington pressionou as Forças Armadas brasileiras a reconhecerem o resultado das eleições
As recentes revelações sobre iniciativas e planos antidemocráticos por integrantes do governo Bolsonaro sugerem que um golpe não aconteceu, acima de tudo, por falta de apoio mais amplo das Forças Armadas brasileiras. Enquanto tudo indica que uma série de lideranças militares – entre elas, os generais Walter Braga Netto, Estevam Teophilo e Mário Fernandes e o então comandante da Marinha, brigadeiro Almir Garnier — apoiaram os planos de Bolsonaro de se manter no poder mesmo sendo derrotado nas urnas, outros, como o comandante do Exército, Freire Gomes, e o da Força Aérea, Baptista Júnior, parecem ter sido contra.
Demorará anos até termos uma visão completa do ocorrido, e ainda devem emergir numerosos detalhes daqueles meses conturbados da segunda metade de 2022, mas há indícios de que uma análise mais profunda terá que incluir não apenas o cenário doméstico, mas também o externo – com destaque para a atuação dos EUA, que pressionaram, durante parte do ano de 2022, as Forças Armadas brasileiras a respeitarem o resultado das eleições presidenciais, e parecem ter tido um papel altamente relevante e possivelmente decisivo.
Já no fim de 2021, consolidou-se a percepção na Casa Branca de que o governo Bolsonaro representava um possível risco à democracia no Brasil. O presidente brasileiro continuava falando de supostas fraudes nas eleições americanas de 2020, questionando, de fato, a legitimidade do governo Biden, e sinalizando…