Pressão norte-americana para que o Brasil “escolha um lado” deve aumentar se o candidato republicano voltar à Casa Branca
O debate doméstico profundamente polarizado pode fazer esquecer que, no âmbito da política externa, há um amplo consenso em expressiva parcela da esquerda e da direita brasileira: a maioria acredita que o Brasil deve preservar seus laços diplomáticos e comerciais com as principais potências, mesmo diante de um cenário geopolítico marcado por tensões crescentes entre os Estados Unidos e a Europa de um lado e a China e a Rússia de outro.
Não surpreende, portanto, que, excetuando-se momentos em que Bolsonaro e Lula usam a geopolítica para mobilizar seus seguidores – seja demonizando a China, seja criticando os EUA –, tanto a política externa bolsonarista quanto a lulista resistiram à pressão ocidental de se afastar da Rússia. O mesmo vale dizer sobre os pedidos russos para o Brasil adotar uma postura mais anti-ocidental. O país mantém suas relações com as potências do Ocidente. Da mesma forma, Bolsonaro não atendeu às demandas de Trump de reduzir a presença de empresas chinesas no Brasil. Se Bolsonaro tivesse sido reeleito em 2022, a postura brasileira diante do confronto entre Moscou e Kiev — e das tensões crescentes entre Washington e Pequim – seria, em grande parte, a mesma do governo atual. Assim se explica o fato de o comércio entre Brasil e China ter crescido consideravelmente durante o governo Bolsonaro – supostamente anti-China – e de Lula – que regularmente adota retórica anti-americana – ter visitado Washington no início de seu mandato na presidência para agradecer a Biden pelo apoio americano à preservação da democracia brasileira.
A convergência entre esquerda e direita sobre a diplomacia de equidistância em relação a potências globais é, em princípio, uma boa notícia: investidores podem ter certeza de que, independentemente de quem ocupar o Palácio Planalto, o governo brasileiro provavelmente manterá a atual estratégia.
O perigo desse consenso, porém, é a complacência que pode levar a ignorar grandes transformações geopolíticas no horizonte. A neutralidade brasileira e a de muitos outros países no Sul Global tem sido, até o momento, uma…