Embora as relações entre Washington e Pequim deteriorem, o país se tornará mais atraente para ambas as superpotências
À primeira vista, o México não dá a impressão de ser um dos países mais bem posicionados no atual cenário político global. Comentaristas como Denise Dresser, professora do Instituto Tecnológico do México, enxergam o partido governista Morena, que triunfou nas eleições presidenciais no mês passado, como uma ameaça autoritária e lamentam o “retrocesso democrático” no país. Em artigo da revista Foreign Affairs, Dresser alerta que “a democracia do México […] está sendo destruída por um presidente eleito livremente, que manipulou as instituições democráticas e procura mudar não apenas as regras do jogo eleitoral, mas também todo o sistema político, para que seu partido permaneça no poder.” Outros descrevem o crescente poder político e econômico das Forças Armadas como o legado mais nefasto do presidente mexicano Andres Manuel Lopes Obrador, conhecido como ‘AMLO’, que deixará o comando em 1º de outubro, quando passará o bastão a sua aliada Claudia Sheinbaum. Documentos vazados por hackers recentemente revelaram que o exército tem espionado jornalistas, defensores dos direitos humanos e lideranças políticas. Por fim, AMLO foi incapaz de combater a violência dos cartéis de drogas e reduzir a taxa elevadíssima de homicídios no país.
Outros analistas, porém, discordam da narrativa sobre o preocupante retrocesso democrático no México. Na última edição da revista Journal of Democracy, a cientista política Viridiana Rios insiste que, apesar das tentativas de AMLO de centralizar o poder e enfraquecer freios e contrapesos, as instituições do país estão sólidas. Rios reconhece as ambições autoritárias do presidente, mas afirma que “a democracia mexicana provou ser mais resiliente do que muitos céticos esperavam”. Olhando para os próximos anos, é otimista a aponta que a falta de carisma de Sheinbaum, divisões no partido governista e uma oposição revigorada tornam um enfraquecimento da democracia mexicana pouco provável.
Enquanto o cenário político preocupa alguns, porém, há um consenso em relação aos vastos benefícios que o cenário geopolítico global pode criar para a economia mexicana: preocupados com as tensões crescentes entre os Estados Unidos e a China, um número crescente de empresas norte-americanas busca reduzir sua dependência do país asiático e diversifica suas cadeias produtivas, escolhendo países mais…