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Por que algumas democracias são mais vulneráveis do que outras? (Estadão)

https://www.estadao.com.br/internacional/oliver-stuenkel/por-que-algumas-democracias-sao-mais-vulneraveis-do-que-outras/

Novo estudo questiona consenso de que dificuldade dos governantes de fornecer resultados socioeconômicos à população seja a principal ameaça à democracia

Numerosos países que celebraram eleições ao longo deste ano têm algo em comum: seus sistemas políticos passaram por retrocessos democráticos. Rússia, Venezuela, El Salvador, Turquia, Índia, México –- em todos esses países, líderes buscaram concentrar o poder político no Executivo, minando os famosos ‘freios e contrapesos’ como o parlamento, o judiciário e as agências regulatórias independentes, tendências que muitas vezes foram acompanhadas por pressões crescentes sobre a sociedade civil e a imprensa. No ranking de democracia da revista britânica The Economist deste ano, a pontuação dos países declinou em todas as regiões do mundo, reflexo de um retrocesso global da democracia. Segundo a revista, a qualidade da democracia na África Subsaariana é a menor desde 2006, e a pontuação na América Latina teve uma queda mais acentuada do que em qualquer outra região. Desde 2016, os EUA constam, no índice, como “democracia falha”, com tendência declinante.

A explicação mais comum pela crise global da democracia é que, se os cidadãos estiverem insatisfeitos com os bens socioeconômicos que as democracias oferecem – como bem-estar econômico, segurança e acesso a serviços públicos de qualidade –, aumenta o risco de eles optarem por alternativas autoritárias. Democracias que “entregam” bons serviços públicos e crescimento econômico, por outro lado, são menos vulneráveis a ameaças autoritárias. Talvez o caso mais notório seja a Alemanha na década de 1930. A hiperinflação e o altíssimo nível de desemprego são vistos como fatores decisivos para a ascensão de Adolf Hitler e o fim da democracia alemã.

Em um novo artigo da revista Journal of Democracy, porém, Thomas Carothers, pesquisador do think-tank americano Carnegie Endowment e um dos principais especialistas em democracia, e seu colega Brendan Hartnett, questionam que fatores socioeconômicos seriam os principais responsáveis pelo atual retrocesso democrático em numerosos países. No texto intitulado “Misunderstanding Democratic Backsliding” (O Mal-Entendido sobre o Retrocesso Democrático), Carothers e Hartnett reconhecem que “governos de qualquer caráter político que forneçam resultados socioeconômicos…

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SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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