Novo estudo questiona consenso de que dificuldade dos governantes de fornecer resultados socioeconômicos à população seja a principal ameaça à democracia
Numerosos países que celebraram eleições ao longo deste ano têm algo em comum: seus sistemas políticos passaram por retrocessos democráticos. Rússia, Venezuela, El Salvador, Turquia, Índia, México –- em todos esses países, líderes buscaram concentrar o poder político no Executivo, minando os famosos ‘freios e contrapesos’ como o parlamento, o judiciário e as agências regulatórias independentes, tendências que muitas vezes foram acompanhadas por pressões crescentes sobre a sociedade civil e a imprensa. No ranking de democracia da revista britânica The Economist deste ano, a pontuação dos países declinou em todas as regiões do mundo, reflexo de um retrocesso global da democracia. Segundo a revista, a qualidade da democracia na África Subsaariana é a menor desde 2006, e a pontuação na América Latina teve uma queda mais acentuada do que em qualquer outra região. Desde 2016, os EUA constam, no índice, como “democracia falha”, com tendência declinante.
A explicação mais comum pela crise global da democracia é que, se os cidadãos estiverem insatisfeitos com os bens socioeconômicos que as democracias oferecem – como bem-estar econômico, segurança e acesso a serviços públicos de qualidade –, aumenta o risco de eles optarem por alternativas autoritárias. Democracias que “entregam” bons serviços públicos e crescimento econômico, por outro lado, são menos vulneráveis a ameaças autoritárias. Talvez o caso mais notório seja a Alemanha na década de 1930. A hiperinflação e o altíssimo nível de desemprego são vistos como fatores decisivos para a ascensão de Adolf Hitler e o fim da democracia alemã.
Em um novo artigo da revista Journal of Democracy, porém, Thomas Carothers, pesquisador do think-tank americano Carnegie Endowment e um dos principais especialistas em democracia, e seu colega Brendan Hartnett, questionam que fatores socioeconômicos seriam os principais responsáveis pelo atual retrocesso democrático em numerosos países. No texto intitulado “Misunderstanding Democratic Backsliding” (O Mal-Entendido sobre o Retrocesso Democrático), Carothers e Hartnett reconhecem que “governos de qualquer caráter político que forneçam resultados socioeconômicos…