Debate sobre estratégia de Lula diante das ‘eleições’ venezuelanas ignora que postura brasileira dificilmente fará diferença
A resposta do governo Lula às “eleições” venezuelanas em 28 de julho – mais um capítulo no longo e previsível colapso político e econômico do país nas últimas décadas – tem gerado debates calorosos nas redes sociais no Brasil. Enquanto vários países europeus, latino-americanos e norte-americanos rejeitaram a declaração de vitória de Nicolás Maduro, um grupo de regimes autoritários, como Rússia, Nicarágua, Cuba, China e Irã, rapidamente reconheceu o resultado oficial. O Brasil, por sua vez, optou por uma postura de “neutralidade” e se dispôs a facilitar negociações entre o governo venezuelano e a oposição. Além disso, nem reconheceu nem rejeitou o resultado, e pediu as atas oficiais que comprovariam a vitória de Maduro – mesmo ciente de que, diante das numerosas evidências do triunfo oposicionista, o governo venezuelano dificilmente as divulgará.
Críticos da estratégia de Lula apontam que a postura “neutra” do Brasil acaba sendo, na prática, uma posição pró-Maduro, pois ajuda o ditador venezuelano a ganhar tempo, do mesmo jeito que ele conseguiu protelar mediações e negociações com opositores ao longo da última década, sempre apostando, corretamente, que, poucas semanas depois de cada passo da inexorável escalada autoritária, a comunidade internacional desviaria sua atenção para lidar com outras crises. No início de agosto, um grupo de trinta ex-presidentes latino-americanos pediu, em uma carta aberta, que Lula adotasse uma postura mais assertiva para defender a democracia na Venezuela. Afinal, pedir uma “verificação imparcial dos resultados” em um país sem freios e contrapesos e sem um sistema de Justiça Eleitoral independente, como Lula fez, acaba conferindo implicitamente um verniz de legitimidade a um governo autocrático – como se uma verificação imparcial do pleito na Venezuela ainda fosse possível. De fato, Lula tem um histórico de comentários semelhantes…