estadao Featured Portuguese

Por que a economia dos EUA cresce mais durante os governos do Partido Democrata? (Estadão)

Evidência histórica não deixa dúvida de que legado econômico dos Democratas é superior ao dos Republicanos, mas diferença não se reflete na opinião pública norte-americana

https://www.estadao.com.br/internacional/oliver-stuenkel/por-que-a-economia-dos-eua-cresce-mais-durante-os-governos-do-partido-democrata/

Kamala Harris soube ressuscitar a campanha presidencial do Partido Democrata, mas várias pesquisas sugerem que os eleitores ainda confiam mais em Donald Trump do que nos Democratas para gerir a maior economia do planeta. De fato, o Partido Republicano é visto muitas vezes como mais competente pelos eleitores, não apenas nos temas tipicamente prioritários da direitacomo o combate ao crime e à imigração ilegal –, mas também na gestão da economia. Já os Democratas são vistos geralmente como mais preparados em áreas socioambientais (educação, saúde, enfrentamento das desigualdades e das mudanças climáticas, combate à violência com armas de fogo).

A reputação do Partido Republicano de mais competente na gestão da economia é um tanto surpreendente por um simples motivo: desde a Segunda Guerra Mundial, o desempenho econômico na grande maioria das métricas – como crescimento do PIB e geração de emprego – tem sido pior, de forma bastante consistente, durante governos Republicanos do que nas gestões Democratas. Como mostra o economista Jeffrey Frankel, da Universidade de Harvard, o PIB dos EUA tem apresentado, desde então, uma taxa média de crescimento de 4,23% ao ano durante os governos Democratas, contra 2,36% sob os Republicanos, uma diferença notável de 1,87% (se incluídas as décadas anteriores à Segunda Guerra Mundial, a diferença é ainda maior). Nove das dez últimas recessões nos EUA começaram quando um Republicano era presidente. O autor também aponta que, em cinco das 10 transições mais recentes de governo nas quais um Democrata foi sucedido por um Republicano, a taxa de crescimento caiu de um mandato para o outro. Nas outras cinco das transições nas quais um republicano foi sucedido por um democrata, a taxa de crescimento aumentou. Sem exceções. Não surpreende, portanto, que o índice S&P 500 tenha apresentado uma trajetória de maior crescimento durante governos Democratas. Cada partido teve sete presidentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com 88 milhões de empregos criados pelos Democratas e 32 milhões pelos Republicanos. Mesmo usando outras métricas, como produtividade ou crescimentos de salários reais (ajustados pela inflação), governos Democratas têm legados melhores.

Perplexo com suas próprias descobertas, Frankel confessa que “até mesmo aqueles entre nós [economistas] que acreditamos que as políticas econômicas dos Democratas são melhores, não conseguimos explicar essa grande diferença” – afinal, o crescimento do PIB e a criação de emprego dependem de numerosos fatores, vários dos quais estão fora do controle do presidente dos EUA. Questões como a composição do Congresso, o crescimento da China, pandemias e guerras podem ter profundo impacto no cenário econômico. Mesmo assim, Frankel alerta que dificilmente se trata apenas de uma grande coincidência: “A probabilidade de que a diferença entre o desempenho econômico dos EUA entre governos Democratas e Republicanos tivesse ocorrido apenas por acaso são remotas (…): menos de uma em 100.”

Em busca de explicações para o fenômeno, Alan Blinder e Mark Watson, ambos da Universidade de Princeton, argumentam em um artigo da revista American Economic Review que “a resposta não é encontrada (…) em política monetária ou fiscal sistematicamente mais expansionista sob os democratas”. Até porque…

Ler artigo na íntegra

SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

LIVRO: O MUNDO PÓS-OCIDENTAL

O Mundo Pós-Ocidental
Agora disponível na Amazon e na Zahar.

COLUNAS