Presidente Masisi não fez um bom governo, mas seu discurso de reconhecimento da derrota fez toda a diferença
No mês passado, o presidente botsuanense, Mokgweetsi Masisi, proferiu o melhor e mais importante discurso de sua carreira política. Logo depois de ficar sabendo do resultado das eleições, disse, em uma coletiva de imprensa: “Reconheço o resultado da eleição. Tenho orgulho do nosso processo democrático. Embora eu desejasse um segundo mandato, respeitosamente deixarei o cargo e participarei de um processo de transição tranquilo. Estou ansioso para comparecer à cerimônia de posse e torcer por meu sucessor. Ele contará com meu apoio.”
Ao tentar explicar o resultado, não questionou o sistema eleitoral, não culpou a mídia e não inventou nenhuma teoria conspiratória. Não responsabilizou a CIA, nem George Soros, nem quaisquer outros atores externos. Simplesmente assumiu, de forma inequívoca, a responsabilidade pela derrota: “Estávamos realmente convencidos da nossa mensagem, [mas] erramos feio aos olhos do povo.” Masisi anunciou que já tinha falado com o líder do partido oposicionista Umbrella for Democratic Change (UDC), o advogado de direitos humanos formado em Harvard, Duma Boko, para combinar a transição.
De fato, depois de um mandato conturbado, Masisi não merecia ser reeleito. Foi acusado de usar recursos do governo de forma inadequada e enfrentou acusações de corrupção sistemática. Além disso, demonstrou falta de postura presidencial ao utilizar uma linguagem ofensiva e desrespeitosa para atacar adversários, incluindo líderes comunitários, um comportamento amplamente criticado em uma sociedade que preza o princípio botsuanense de botho (civilidade e respeito).
Mesmo assim, quando enfrentou seu maior desafio, esteve à altura do momento. Afinal, o discurso de reconhecimento da derrota de quem está no poder e a promessa de facilitar a transição de poder para a oposição representam o ato mais sagrado da democracia, pois simbolizam a grande diferença entre regimes democráticos e autoritários. Em democracias, partidos governistas deixam o poder sem desestabilizar o sistema, pois aceitam a legitimidade da oposição e confiam que ela respeitará as regras….