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Como superar a polarização: lições globais para um desafio crescente (Estadão)

Se a divisão social pode ser deliberadamente alimentada por alguns líderes, também pode ser combatida por meio de escolhas políticas

https://www.estadao.com.br/150-anos/republica-em-transformacao/um-pais-conseguiu-desviar-da-polarizacao-veja-essa-e-outras-licoes-globais-contra-o-radicalismo/

Uma das pesquisas de opinião mais inusitadas no último ciclo eleitoral dos Estados Unidos revelou que a maioria dos eleitores republicanos simpáticos ao movimento trumpista “Make America Great Again” (MAGA) acreditava ser Vladimir Putin – autocrata que persegue a oposição, a imprensa e controla o legislativo e o judiciário – um presidente melhor do que Joe Biden. Tal resultado, reflexo da polarização destrutiva que há anos tomou conta dos EUA, teria sido impensável durante a Guerra Fria, quando democratas e republicanos divergiam em muitas questões, mas compartilhavam a visão de que Moscou representava a principal ameaça à segurança nacional.

Desde então, os Estados Unidos passaram de uma “democracia de cidadãos” para uma “democracia de torcedores”, como observa o cientista político búlgaro Ivan Krastev. Enquanto o cidadão entende que criticar e corrigir os erros de seu próprio partido faz parte da lealdade a seus princípios e enxerga a alternância de poder como benéfica para renovar ideias e lideranças, o torcedor adota uma postura de apoio político absoluto e inquestionável. Para ele, não basta vencer; é fundamental garantir que a oposição nunca mais retorne ao poder. Nesse cenário, a vitória do adversário não é vista como parte do jogo democrático, mas como uma ameaça existencial à própria nação.

Nos dias atuais, a polarização afeta seriamente o funcionamento das instituições. Por exemplo: mais presidentes americanos sofreram processos de impeachment desde o fim da Guerra Fria do que nos primeiros dois séculos da república estadunidense. A polarização também aumenta o risco de violência política: 33% dos republicanos acreditam que “patriotas americanos podem ter que recorrer à violência para salvar o país”, em comparação com 22% de eleitores sem filiação partidária e 13% dos democratas. Nos bastidores, políticos nos EUA de ambos os lados do espectro ideológico frequentemente expressam preocupação com a quantidade de ameaças que recebem.

A polarização destrutiva não é um fenômeno exclusivo dos Estados Unidos. Ela espalhou-se globalmente, afetando democracias consolidadas e emergentes, e tornou-se um dos desafios políticos mais urgentes ao redor do mundo. Esse fenômeno, embora não seja novo, ganhou força nas últimas décadas, impulsionado por mudanças tecnológicas, redes sociais, o enfraquecimento do tecido social e estratégias políticas deliberadas por lideranças com ambições autoritárias. No entanto, experiências internacionais mostram que a polarização não é inevitável nem irreversível. Pelo contrário: da mesma forma que ela pode ser fomentada, também pode ser combatida. Nesse contexto, vale…

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SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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