Ruptura entre EUA e China encerra ‘décadas douradas’ e dá início a nova Guerra Fria (Estadão)

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Afastamento das duas superpotências em áreas como comércio, educação e pesquisa compromete estabilidade global

Por décadas, milhões de pais chineses sonharam em ver seus filhos estudando nos Estados Unidos — um passaporte para o sucesso profissional, a mobilidade social e uma vida globalizada. Em 2019, antes da pandemia de Covid, mais de 370 mil chineses estavam matriculados em universidades americanas, formando a maior comunidade internacional no ensino superior dos EUA, até serem superados por estudantes indianos em 2023. Isso inclui numerosos filhos da elite política e econômica chinesa, como, por exemplo, Xi Mingze, a filha do presidente Xi Jinping, que se formou na Universidade Harvard. Foi um fenômeno sem precedentes: duas potências rivais construindo pontes nos campos da educação, da ciência e da inovação, facilitando o diálogo entre os dois países. Apesar de estarem em número menor, os estudantes americanos na China também ajudaram a ampliar a compreensão mútua.

A relação comercial também floresceu. Desde a entrada da China na OMC, em 2001, as duas maiores economias do mundo tornaram-se profundamente interdependentes e a espinha dorsal de uma economia globalizada. Isso permitiu uma era de crescimento global e ganhos de eficiência. Um elemento-chave dessa parceria foi a ausência de tensões geopolíticas significativas, que viabilizou uma redução na proporção dos gastos militares globais.

O que raramente se destaca é quão atípico foi esse período. Ao longo da história, a relação entre a potência dominante e a principal potência emergente tende a ser marcada por tensão constante, pouco comércio e rivalidade. O que ocorreu depois do fim da Guerra Fria foi possível por fatores excepcionais — entre eles, o “momento unipolar” nos anos 1990 e o consenso liberal em Washington, que apostou na integração da China ao sistema liderado pelos EUA. Isso acelerou a ascensão chinesa, mas também beneficiou enormemente consumidores e empresas americanas.

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